Toada

15-12-2021

Derivada do verbo toar (produzir um som forte, ressoar), a palavra toada assume na música popular brasileira diversos significados.

Em sua acepção mais ampla, refere-se à linha melódica de qualquer canção sobre a qual se articulam os versos da letra. É com esse sentido que ela aparece na letra da canção Paratodos, de Chico Buarque ("Foi Antônio Brasileiro / Quem soprou esta toada / Que cobri de redondilhas / Pra seguir minha jornada").

No maracatu, a toada (ou loa) corresponde a um canto alternado entre solista e coro, preservando características dos cantos e textos africanos. No boi bumbá paraense, o termo designa o canto de apresentação dos bois, tendo se transformado em gênero autônomo. No cururu, as chamadas toadas de licença são cantos de entrada ou de permissão que, proferidas pelo pedestre (cantador que não participa dos desafios, mas propõe as rimas a serem utilizadas pelos desafiantes), constituem a primeira parte da dança.

Mais comumente, porém, chama-se de toada um gênero cantado sem forma fixa, que se espalha por todo o Brasil, distinguindo-se pelo caráter melodioso e dolente. Seu texto, entoado de modo cadenciado e claro, é normalmente curto, narrativo e estruturado na forma de estrofe e refrão, podendo ser amoroso, lírico ou cômico. Embora suas características musicais variem bastante, a melodia costuma ser simples e plangente, conduzida por graus conjuntos e em andamento lento, podendo ser cantada em dueto de terças paralelas, sobretudo em áreas de cultura caipira (Regiões Sudeste e Centro-Oeste).

Pouco se sabe sobre a origem do gênero, provavelmente derivado da poesia trovadoresca, das cantigas pastoris e dos fados portugueses. Embora tenha surgido no meio rural, como comprovam vários exemplos recolhidos por Mário de Andrade em suas pesquisas folclóricas, é na cidade que a toada ganha visibilidade, especialmente após a década de 1910.

Menos dolente que a caipira e a nordestina, a toada desenvolvida no Rio Grande do Sul também reforça características regionais. São exemplos de toadas gaúchas, De Bombacha (1952), de Caco Velho e Piratini, e Cevando o Amargo (1956), de Lupicínio Rodrigues e Piratini, ambas ressaltando elementos da cultura gaúcha.

No fim dos anos 1960, já no contexto de resgate das tradições brasileiras, a toada reaparece em composições que retomam as figuras do violeiro, do caipira e do retirante, como Viola Enluarada (dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), Andança (Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós), Sá Marina (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar), Menininha do Portão (Nonato Buzar, Paulinho Tapajós) e o clássico Romaria (Renato Teixeira).